A artrite psoriásica é uma forma de artrite inflamatória associada à psoríase, uma doença de pele crônica. Inicialmente considerada uma variante da artrite reumatoide, ela é agora reconhecida como uma entidade clínica distinta, conforme diretrizes da American College of Rheumatology (ACR) e da European League Against Rheumatism (EULAR).
Essa condição afeta articulações, tendões e outras estruturas, causando dor e rigidez. As diretrizes da ACR enfatizam a importância de identificar a artrite psoriásica precocemente para melhorar o prognóstico. Este artigo discute as manifestações clínicas e o diagnóstico, com base em evidências de alta qualidade de organizações internacionais.
A patogênese, tratamento e aspectos da psoríase são abordados em outros recursos. Aqui, focamos em ajudar o público geral a entender os sintomas e o processo diagnóstico de forma clara e acessível.
Epidemiologia
A artrite psoriásica afeta homens e mulheres igualmente, com uma incidência de cerca de 6 casos por 100.000 pessoas por ano e prevalência de 1 a 2 por 1.000 na população geral, de acordo com estudos populacionais revisados pela EULAR.
Entre pacientes com psoríase, a prevalência varia de 4 a 30%, com limitações devido a definições variadas e fatores geográficos, como destacado em uma revisão sistemática de 2008. Um estudo multicêntrico europeu estimou que 31% dos pacientes com psoríase desenvolvem artrite psoriásica após 30 anos de doença cutânea.
Estudos usando critérios CASPAR (Classification Criteria for Psoriatic Arthritis) mostram prevalência de 14 a 30% em pacientes com psoríase. Uma pesquisa prospectiva de quatro anos encontrou incidência anual de quase 2%, com maior risco em casos com lesões ungueais ou em couro cabeludo.
Dados do NHANES (Centers for Disease Control and Prevention) indicam maior prevalência de dor lombar inflamatória e espondiloartrite em pacientes com psoríase (17% versus 5% na população geral). Em pacientes com artrite não diagnosticada, a artrite psoriásica representa cerca de 13%.
Um estudo prospectivo anual encontrou incidência de 2,7 a 3,2% em pacientes com psoríase sem artrite inicial, confirmada por critérios CASPAR e questionários validados.
Manifestações Clínicas
Pacientes com artrite psoriásica apresentam dor e rigidez nas articulações afetadas. Rigidez matinal superior a 30 minutos ocorre em metade dos casos, agravada por imobilidade e aliviada por atividade, similar a outras artrites inflamatórias.
História de psoríase está presente em 70% dos pacientes no momento da apresentação artrítica. No exame físico, dor ao estresse, sensibilidade articular e efusões são comuns, frequentemente em distribuição assimétrica. Articulações interfalângicas distais e coluna são afetadas em 40 a 50% dos casos.
Cerca de 15% dos pacientes mostram evidência de psoríase no exame, mesmo sem história conhecida. Pacientes podem ser menos sensíveis à dor que em outras artrites, como reumatoide, levando a deformidades sem dor significativa.
Manifestações Articulares
A artrite psoriásica pode envolver articulações periféricas, axiais ou ambas, frequentemente como poliartrite ou oligoartrite. Padrões incluem artrite distal, oligoartrite assimétrica, poliartrite simétrica, artrite mutilante e espondiloartrite.
Artrite distal afeta articulações interfalângicas distais. Oligoartrite assimétrica envolve menos de cinco articulações. Poliartrite simétrica assemelha-se à reumatoide. Artrite mutilante é deformante. Espondiloartrite inclui sacroiliíte e espondilite.
Padrões podem sobrepor ou mudar ao longo do tempo. A maioria tem apresentação oligoarticular, mas estudos variam. Doença axial ocorre em 42% dos casos radiograficamente, associada a início precoce e HLA-B*27 positivo.
Doença Periarticular
Características incluem entesite (inflamação na inserção de tendões/ligamentos no osso), tenossinovite e dactilite (inchaço difuso de dedo, “dedo em salsicha”). Entesite afeta Aquiles, fáscia plantar; subclínica é comum em psoríase.
Dactilite ocorre em metade dos pacientes, associada a dano radiográfico progressivo, resultante de inflamação de tecidos moles e articulações. Ferramentas de avaliação para entesite e dactilite são usadas em pesquisas.
Relação entre Artrite e Lesões Cutâneas
Artrite surge após lesões cutâneas na maioria, mas precede em 13-17%. Fenótipos de psoríase como lesões no couro cabeludo, distrofia ungueal e interglúteas aumentam risco. Correlação fraca entre gravidade cutânea e articular.
Lesões Ungueais
Características incluem pitting (depressões na placa), onicolise (separação da unha), hiperqueratose e hemorragias em farpa. Ocorrem em 80-90% dos pacientes com artrite psoriásica versus 46% na psoríase isolada.
Gravidade ungueal correlaciona com extensão cutânea/articular, mais comum em artrite distal. Índice de gravidade validado relaciona com severidade global e contagem de articulações afetadas.
Edema em Fossa
Inchaço com edema em fossa em mãos/pés é característica inicial. Prevalência maior na artrite psoriásica (21% versus 5% em outros distúrbios). Pode ser assimétrico e preceder envolvimento articular.
Linfedema crônico é raro, confirmado por linfocintilografia; inchaço simétrico pode dever-se a tenossinovite extensa sem obstrução linfática.
Envolvimento Ocular
Inflamação ocular como uveíte e conjuntivite ocorre em alguns pacientes. Conjuntivite em 20%, uveíte em 7%. Uveíte em artrite psoriásica é frequentemente bilateral, posterior, insidiosa, crônica e mais comum em mulheres.
Uveíte pode ocorrer em artrite periférica; em axial, associa-se a HLA-B*27 positivo. Mais comum na artrite psoriásica que na psoríase isolada.
Padrão | Características |
---|---|
Artrite Distal | Afeta articulações interfalângicas distais, comum em 40-50% dos casos |
Oligoartrite Assimétrica | Menos de 5 articulações, distribuição irregular |
Poliartrite Simétrica | Similar à reumatoide, mas com entesite e dactilite |
Artrite Mutilante | Deformante e destrutiva, rara |
Espondiloartrite | Envolve sacroiliíte e espondilite, axial |
Achados Laboratoriais
Achados laboratoriais são inespecíficos, refletindo resposta de fase aguda e cronicidade inflamatória. Nenhum é característico para distinguir de outras artrites.
Reagentes de fase aguda elevados em 40%; taxa de sedimentação eritrocítica e leucocitose em um terço. Anemia por doença crônica ou deficiência de ferro por AINEs.
Fator reumatoide positivo em 2-10%; anticorpos antinucleares em 50% a título baixo, 14% a título significativo. Anticorpos antipeptídeo citrulinado em 8-16%, associados a doença erosiva/poliarticular.
HLA-B*27 associa-se a artrite psoriásica, identificando risco em psoríase; HLA-C*06 associa-se a ambos, com menor frequência na artrite.
Achados de Imagem
Alterações radiográficas mostram um padrão marcante: erosões e formação óssea nova coexistentes, lise de falanges terminais, periostite fofa, destruição articular grossa, “lápis-em-copo”, lise e anquilose.
Danos radiológicos precoces sugerem doença agressiva ou duração maior. Radiografias axiais mostram sacroiliíte simétrica ou unilateral grau 2-4, sindesmófitos volumosos paramarginais.
Ressonância magnética é mais sensível para inflamação articular/periarticular/tecido mole; sugere entesite como lesão primária, controverso. Achados em sacroiliíte incluem edema medular, erosões, esclerose.
Artrite psoriásica associa-se a redução de massa óssea, levando a osteoporose e risco de fraturas.
Comorbidades
Risco cardiovascular aumentado na artrite psoriásica, documentado em estudos longitudinais. Eventos adversos maiores (morte cardiovascular, infarto, AVC) elevados em pacientes sem DMARDs.
Psoríase associa-se a síndrome metabólica, hipertensão, diabetes, aterosclerose, malignidades, distúrbios hepáticos/pulmonares, psiquiátricos. Síndrome metabólica comum, relacionada a gravidade.
Diabetes mais comum que na população geral, associado a severidade. Aterosclerose prevalente. Sem aumento de malignidades. Depressão/ansiedade mais comuns que na psoríase isolada.
Manifestação | Frequência Aproximada |
---|---|
Lesões Ungueais | 80-90% |
Dactilite | 50% |
Entesite | 35% |
Conjuntivite | 20% |
Uveíte | 7% |
Diagnóstico
Diagnóstico feito em paciente com psoríase e artrite inflamatória em padrão típico. Excluir outras artrites como reumatoide, osteoartrite, gota, reativa, intestinal.
Características sugerem artrite psoriásica sem psoríase: envolvimento distal, assimetria, lesões ungueais, dactilite, história familiar, HLA-C*06.
Avaliação inclui história (psoríase, articulações, entesite, dactilite, olho, dor lombar inflamatória, gota, medicamentos, família), exame físico (padrão articular, inflamação, entesite, dactilite, pele, nódulos).
Laboratoriais: hemograma, ureia/creatinina/ácido úrico/urina, VSH/PCR, fator reumatoide/anti-CCP/ANA, HLA-B27 em suspeita.
Artrocentese: contagem celular, Gram/cultura, cristais. Imagem: radiografias, ultrassonografia/RM para entesite.
Questionários de Triagem
Questionários identificam pacientes para reumatologista. Desenvolvidos para psoríase ou geral, com sensibilidade/especificidade similares.
Diagnóstico Diferencial
Artrite psoriásica mimetiza outras, distinguida por avaliação clínica/laboratorial/imagem.
Artrite reumatoide: DIP, assimetria, SpA, dactilite, osso novo, cutâneo, ungueal distinguem; fator reumatoide/anti-CCP positivos na maioria reumatoide.
Artrite reativa: oligoartrite assimétrica, entesite, dactilite, dor lombar; antecedente infeccioso ausente na psoriásica; lesões cutâneas diferem; HLA-B27 mais comum na reativa.
Artrite intestinal: padrões similares; uveíte em ambas; psoríase aumentada em Crohn; DIP/ungueal ausentes na intestinal; radiografias diferem.
Espondilite anquilosante: doença espinhal difícil distinguir; psoríase e radiografias (sacroiliíte assimétrica, sindesmófitos não-marginais) distinguem.
Gota: mono/oligoartrite aguda; hiperuricemia em psoríase; cristais confirmam gota; podem coexistir.
Osteoartrite: DIP com características inflamatórias; nódulos ósseos, inchaço difuso, outros achados distinguem.
Critérios de Classificação
Critérios CASPAR para estudos/triais: doença musculoesquelética inflamatória com ≥3 pontos: psoríase cutânea (2 presentes, 1 história/família), lesões ungueais (1), dactilite (1), fator reumatoide negativo (1), formação óssea juxtaarticular (1).
Sensibilidade/especificidade 91-100%/97-99% em estudos, incluindo artrite precoce. Aplicáveis apenas com evidência inflamatória musculoesquelética.
Sumário e Recomendações
Artrite psoriásica ocorre em até 30% com psoríase, rara na população geral. Artrite periférica/axial, padrões sobrepostos; entesite, dactilite, tenossinovite comuns.
Artrite após lesões cutâneas na maioria; ungueal em 80-90%, correlaciona com gravidade. Laboratoriais inespecíficos; radiografias mostram erosões/formação óssea.
Diagnóstico em psoríase com artrite típica; excluir outras. Critérios CASPAR úteis para classificação.
Sinal de Alerta | Quando Procurar Atendimento |
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Dor articular intensa súbita | Imediatamente, para excluir gota ou infecção |
Inchaço assimétrico persistente | Consultar reumatologista em semanas |
Visão borrada ou olho vermelho | Urgente, para avaliar uveíte |
Perguntas Frequentes
O que é artrite psoriásica?
A artrite psoriásica é uma condição inflamatória que afeta articulações em pessoas com psoríase. Ela causa dor, rigidez e inchaço, frequentemente em padrões assimétricos. Diretrizes da ACR recomendam diagnóstico precoce para melhor manejo.
Quais são os sintomas principais?
Sintomas incluem dor articular, rigidez matinal e fadiga. Pode haver dactilite e entesite. Consulte um médico se persistirem, conforme EULAR.
Artrite psoriásica afeta apenas quem tem psoríase?
Na maioria, sim, mas pode preceder lesões cutâneas em 13-17%. Lesões ocultas ou história familiar ajudam no diagnóstico. Critérios CASPAR auxiliam na identificação.
Como diferenciar de artrite reumatoide?
Artrite psoriásica tem DIP, assimetria, dactilite; testes como fator reumatoide são negativos. Imagem mostra osso novo. Avaliação reumatológica distingue.
Lesões ungueais são comuns?
Sim, em 80-90%, como pitting e onicolise. Correlacionam com gravidade articular. Tratamento da psoríase pode melhorar.
Qual o risco cardiovascular?
Aumentado, com eventos como infarto mais comuns. Controle de fatores de risco é essencial, per ACR. Estilo de vida saudável ajuda.
Exames laboratoriais confirmam?
Não específicos; reagentes inflamatórios elevados em 40%. Fator reumatoide negativo na maioria. Usados para excluir outras condições.
Imagem é necessária?
Radiografias mostram erosões e osso novo. RM detecta inflamação precoce. Indicada se dúvida diagnóstica, conforme NICE.
Artrite psoriásica causa uveíte?
Sim, em 7%, frequentemente bilateral e crônica. Sintomas como vermelhidão ocular requerem avaliação oftalmológica. Mais comum que na psoríase isolada.
Como é o diagnóstico?
Baseado em história, exame, laboratoriais e imagem. Excluir outras artrites. HLA-B27 útil em casos axiais.
Pode haver artrite sem psoríase?
Sim, em casos sine psoríase, com DIP, assimetria, dactilite. História familiar apoia. Critérios CASPAR aplicáveis.
Qual a prevalência em psoríase?
4-30%, com incidência anual de 2%. Lesões ungueais aumentam risco. Triagem regular recomendada pela EULAR.
Comorbidades comuns?
Síndrome metabólica, diabetes, depressão. Associadas a gravidade. Manejo multidisciplinar essencial.
Critérios CASPAR são para diagnóstico?
Para classificação em estudos, mas úteis clinicamente. Requerem inflamação musculoesquelética e pontos acumulados. Sensibilidade alta.
Quando procurar médico?
Se dor/rigidez persistir ou piorar. Sinais como dactilite ou uveíte urgentes. Encaminhamento precoce melhora desfechos.